Ponto de partida

Início do ano letivo, em 2023, me foi colocado o seguinte desafio: – Como ensinar Matemática para quem tem deficiência intelectual? Sabemos que a Matemática é abstrata, mas como torná-la acessível a todos, independente da deficiência da criança? 

Sou professora e mãe de uma criança que tem a Trissomia do 21, mais conhecida como a Síndrome de Down, e sei o quão nos é desafiador quando recebemos uma criança com deficiência em nossa turma “regular”.

Parti então para a produção de um material didático de suporte pedagógico adaptado para o ensino de Matemática, que tem como título “Matemática Inclusiva e suas descobertas”. Paralelo à produção li sobre as teorias de aprendizagem, a linha construtivista e a condicionante. A construtivista para que a própria criança construa seus conceitos, sendo alfabetizada ou não, e a condicionante, por favorecer a aprendizagem de pessoas com limitações intelectuais ao utilizar práticas com repetições de informações e reforço positivo condicionante. Outra leitura adicionada a estas, foi sobre a Neuroeducação. 

Do ponto de vista da Neuroeducação, a aprendizagem é compreendida como modificações do Sistema Nervoso Central quando o indivíduo é submetido a estímulos envolvendo especialmente as funções nervosas, tais como, atenção, memória, motivação, dentre outras. Esta aprendizagem está associada diretamente à neuroplasticidade, pois considera a capacidade do cérebro de se adaptar e reorganizar informações ao longo da vida em resposta a novas experiências, aprendizado ou lesões. No contexto da educação de pessoas com deficiência intelectual, a compreensão da neuroplasticidade é fundamental, pois evidencia que o cérebro dessas pessoas pode desenvolver novas conexões neurais, novas sinapses, e assim, adquirir novas habilidades, mesmo diante de desafios cognitivos.

Assim, juntei as duas teorias de aprendizagem e a contribuição da neurociência, e desenvolvi a estrutura deste material.

Com a escolha das bases pedagógicas, passei a questionar-me sobre quais conteúdos seriam contemplados neste material didático.

Antes de responder a esta pergunta, li, pesquisei e estudei mais sobre deficiência intelectual, em especial sobre a Síndrome de Down, e desta forma, busquei compreender como utilizar uma comunicação acessível para justificar o porquê da estrutura escolhida.

A pessoa que tem deficiência intelectual apresenta déficits em funções que estão ligadas diretamente ao intelecto, tais como, o raciocínio lógico, a resolução de problemas e o pensamento abstrato, e déficits em funções adaptativas referentes às habilidades necessárias para o dia a dia. Aqui destaco a capacidade de se comunicar com eficácia. As principais causas que podem estar relacionadas ao transtorno de linguagem com pessoas que possuem a Síndrome de Down são: comprometimento cognitivo, dificuldade de memória de curto prazo, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, alterações neurológicas, anatomia, dentre outras.

Para que a comunicação se torne acessível é preciso adaptar conteúdos em linguagem simples. Mas como assim, simples?

Tornar a linguagem simples significa adaptar as informações contidas em um texto, utilizando palavras e expressões de fácil compreensão. Vale destacar que o “simples” não significa “infantilizar” a escrita, pelo contrário, é uma linguagem simples, mas com o rigor das definições e propriedades que o componente curricular exige. Neste caso específico, a Matemática.

Com a pretensão de estimular diferentes áreas do cérebro na construção de uma aprendizagem matemática lúdica, participativa e significativa, buscamos propor questões para pensar, manusear, completar, pintar, circular, riscar e escrever. A proposta aqui apresentada é de um suporte pedagógico cognitivamente democrático, visto que, pode atender ao aluno, independente da sua condição intelectual.

Foi dado o ponto de partida, agora somos desafiados a darmos continuidade a este trabalho tão almejado por famílias e educadores. Para tanto, cientes que só avançaremos somando forças, convidamos você professor(a) para juntos adaptarmos e compartilharmos atividades dos diferentes Componentes Curriculares e níveis de ensino, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio.

A autora – “Matemática Inclusiva e Suas Descobertas” – Kayla Braga

AVATARES

Para que haja uma interação entre o aluno e os conteúdos do livro “Matemática Inclusiva e suas descobertas”, foram criados avatares (Dhi, Can, Lana e Lice).

A Dhi e a Lana têm a Trissomia do Cromossomo 21. O Can é o irmão da Dhi e a Lice é a irmã da Lana. Estes avatares, no livro, questionam o aluno e o felicita com palavras positivas (do tipo: Muito bem! Bravo!).

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